domingo, julho 16, 2006

Qual a copa que perdemos?


Irineu Deliberalli


Não sou daqueles que consideram o futebol como ópio do povo. Precisaríamos também considerar o Alfred Nobel um propagador deste “ópio” pois inventou a dinamite, e ao invés de abrir estradas e criar melhores condições de vida aos homens, passou a fazer parte de bombas que mataram milhões de seres humanos, em muitas delas jogadas através do invento de Alberto Santos Dumont, que deve também ter sido um “ópio”, pois no lugar de diminuir distâncias e aproximar pessoas, criou desgraças e aniquilação entre nós. O que tem dado esta sensação de ópio do povo é a maneira com que a mídia e, principalmente, as empresas patrocinadoras vendem como a idéia do futebol... ”é a pátria de chuteira” ... ”somos melhores que os argentinos” ... “somos os melhores do mundo” ... “é o país do futebol” ... É... é o país do futebol, mas só do futebol? São 180 milhões de futebolistas parindo a cada dia várias bolas, enterrando outras tantas; comendo bola, educando-se com uma bola, alimentando seus bebês com uma bola, tomando 1 drágea de bola ou 20 gotas de bola várias vezes ao dia, para passar suas dores físicas; indo a psiquiatras e psicólogos com suas bolas e, nos consultórios, fazem verdadeiros “rachas” com os doutores. E em suas igrejas e templos acendem suas velas de todas as cores para seus anjos, mestres ou santos para que suas bolas sejam abençoadas e “livradas de todo o mal”. Mas há algumas bolas más que são colocadas dentro de umas máquinas inventadas por Mister Colt e são atiradas em muitas pessoas. E, ultimamente, o hábito tem sido atirá-las em policiais nos dando uma total insegurança com relação à ordem pública, sem falar nas lindas bolas que são enroladas em papeizinhos para se fumar, ou outras e muitas bolas que se diluem e a transformamos em pós e a misturamos em líquidos para serem aplicados em nossos organismos, ou outras que numa linda carreirinha a sugamos pelas narinas e dá um “bolarato” incrível e saímos da sintonia da vida, entrando assim na “bola total”. É esta sensação de “bola total” que sinto comigo e em muitas pessoas com quem convivo. Nós estamos anestesiados. Não sei se a crença de que Deus é brasileiro é real, mas o Grande Pai deu uma enorme mãozinha a todos nós e nos fez perder esta copa, pois temos que arrumar nossa casa chamada Brasil. E se tivéssemos ganhado, de fato, a vitória serviria como um ópio para nossas consciências. Fatalmente esqueceríamos que temos que construir uma nação, uma identidade, uma consciência de patriotismo, pois ele infelizmente só se reflete em algumas chuteiras.

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